terça-feira, 23 de novembro de 2010

II ENGA (Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia)

Enquanto morador de Aldeia Velha, tive uma visão diferente do Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia (ENGA), que foi realizado no meu vilarejo nesse ano. Acordar numa bela sexta feira de sol ao som dos agroecologistas que cantavam em passeata pela cidadela foi uma surpresa deliciosa. Foi a semente de alegria dos dias que viriam a seguir. Foi engraçado ver a palavra ‘agroecologia’, tão diferente e incomum para o povo daqui, ser pronunciada aos borbotões, quase como se fosse um fonema estrangeiro. Agro-eco-lo-gia, gaguejavam alguns matutos da terra com uma ponta de estranhamento que entortava a boca.Vivo em um lugar maravilhoso que, apesar disso, sofreu com a revolução verde ocorrida na década de 70. Como em todos os lugares onde ela chegou, hoje em dia não se vê mais o cultivo da agricultura sem o uso de pesticidas e venenosos agrotóxicos. Aonde não se veêm essas imensas monoculturas tecnizadas, vê-se pasto por todos os lados. Concentração de terras por um lado, concentração de casas crescendo em outro. Os agricultores que venderam suas medianas propriedades, compraram lotes pequenos formando nossa singela cidade. Perdemos assim, aos poucos, a alma da agricultura familiar em pequena e média escala. Eis o cenário que a Agroecologia tenta reverter. Em tempo ainda de evitar que muitos conhecimentos tradicionais dos povos agricultores (que o faziam de modo naturalmente orgânico) se percam. Julguei, com isso, muito importante a realização do ENGA no meu vilarejo. Como em todos os vilarejos que sofrem essa problemática socioambiental atual, o ENGA vem trazer luz e esperança de que uma nova transformação no campo possa acontecer. Somente a agroecologia pode nos salvar desse sistema de desmatamento e auto-envenenamento que construímos em ritmo desenfreado. Sistema esse que está destruindo não o nosso planeta, mas a nós mesmos.
É realmente edificante enxergar em cada agroecologista o cuidado com a terra, como se ela fosse um pedaço de nós. Ver que existem pessoas que cuidam do meio-ambiente de maneira integral, se preocupando com os animais e as espécies nativas, preservando a cultura local dos antigos agricultores como forma de manter assim as florestas em pé. A cultura da terra e a agroecologia andam lado a lado. É através da cultura que transmitem-se os conhecimentos de uma geração a outra. É a cultura que faz de nós, nós mesmos. Um povo com a cultura agroecológica pode transformar o mundo.Embora não tenha sido feita uma transformação definitiva na cultura da população local, o encontro com suas vivências e trocas contínuas semeou em diversos lugares de Aldeia Velha a cultura agroecológica. Foi bom para o povo da roça ver que jovens universitários de todo o Brasil (alguns até de boas condições financeiras) estão interessados nessa transformação as avessas. A transformação do agronegócio, ou do agroveneno, em agricultura ecológica, em agricultura orgânica. É bom ver que as novas gerações estão preocupadas com o futuro, com a cultura do futuro.
Desejo de coração que o ENGA possa seguir por muitos anos despertando corações agroecológicos em populações rurais que, como a nossa, estão carentes dessa maravilhosa cultura de amor a terra e aos ciclos orgânicos da natureza.

Viva o ENGA!!! Agroecologia, a cultura do futuro, para sempre!!!!

Mais fotos do evento no link:

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cartilha Eco-Pedagógica lançada pela Escola da Mata Atlântica.


No mês de Outubro de 2010 foi lançada a cartilha eco-pedagógica “Semeando para a Vida” um dos produtos do projeto “Da semente ao fruto” idealizado pela Escola da Mata Atlântica.
A cartilha foi construída em conjunto pelos pesquisadores da Escola da Mata Atlântica e as professoras da Escola Municipalizada de Aldeia Velha no ano de 2009, durante os meses de junho e julho, quando foi realizado um curso de formação eco-pedagógica com as professoras do maternal e do primário da escola local. Foram realizadas visitas, debates, vivências e palestras agroecológicas na escola com o objetivo de instrumentalizar as professoras sobre as práticas ambientalmente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas que a agroecologia preconiza no mundo atualmente.
Tendo foco principal na preservação das sementes caboclas (ou crioulas, como também são conhecidas as sementes tradicionais da roça que não sofreram a ação de agrotóxicos e nem transformações genéticas) a cartilha contém exercícios que acrescentam às disciplinas tradicionais escolares os conhecimentos agroecológicos, divertindo e ensinando as crianças de maneira criativa.
Esse projeto estimula e aproxima as crianças a Casa de Sementes Livres que se encontra no terreno da Escola Municipalizada Vila Silva Jardim, despertando desde a infância a importância da conscientização ecológica e da preservação da biodiversidade, atualmente ameaçada de extinção.
No lançamento da cartilha eco-pedagógica o projeto foi muito bem recebido por professora(e)s de todas as escolas públicas localizadas no município de Silva Jardim, que demonstraram o interesse de que esse projeto se multiplique e se expanda pela região.
Seria um sucesso para os criadores do projeto e para as professoras da escola pública de Aldeia Velha se esse projeto semeasse vida e agroecologia em outras localidades, semeando em outras crianças a importância da preservação das sementes caboclas, ou crioulas, ou simplesmente livres.