quinta-feira, 31 de março de 2011

AGROECOLOGIA

 Muitas pessoas confundem alimentos agroecológicos com alimentos orgânicos. Porém, nem todos os alimentos orgânicos são agroecológicos ou mesmo advindos de algum sistema produtivo familiar.

 A Agroecologia consiste em uma proposta alternativa de agricultura familiar que agrega saberes populares e tradicionais aos conhecimentos científicos das ciências naturais e sociais.

 Possui em sua essência a integração de todos os saberes e ciências em busca de um conhecimento profundo e integrado sobre os diversos ecossistemas da natureza. O objetivo da agricultura ecológica é respeitar ao máximo a sustentabilidade dos ciclos naturais em integração com a agricultura produtiva. Produzindo alimentos variados que enriqueçam o solo sem o auxílio de insumos químicos (agrotóxicos), a agroecologia condena a alta mecanização do campo, assim como a concentração de terras produtivas, a exploração e exposição do trabalhador rural aos remédios e agrotoxinas.

 "As práticas agroecológicas podem ser vistas como práticas de resistência da agricultura familiar perante o processo de exclusão no meio rural e de homogeneização das paisagens de cultivo. Essas práticas se baseiam na pequena propriedade, na força de trabalho familiar, em sistemas produtivos complexos e diversos, adaptados às condições locais e ligados a redes regionais de produção e distribuição de alimentos."

Uma lista divulgada recentemente pela Anvisa revelou a presença de agrotóxicos não permitidos em todas as culturas analisadas nos mercados do Rio de Janeiro. Ingredientes ativos banidos em diversas partes do mundo, como acefato, metamidofós e endossulfam, foram encontrados de forma irregular nas culturas de abacaxi, alface, arroz, batata, cebola, cenoura, laranja, mamão, morango, pimentão, repolho, tomate e uva.
Muitos casos de doença tem surgido agregado ao consumo ou a produção de alimentos com agrotóxicos. A agroecologia, por não utilizar esses insumos, faz bem a saúde humana e consequentemente à saúde da terra. Por ser tradicionalmente realizada em pequena escala, é difundida entre os agricultores familiares, que praticam a agroecologia diariamente, muitas vezes sem sequer saber que a praticam. 
Nesse contexto, a agroecologia surge como uma ferramenta real de agricultura sustentável em contrapeso ao sistema agroindustrial implantado atualmente. Sistema que vem desmatando e extinguindo florestas e biomas e acelerando desmesuradamente o processo de aquecimento global.


Abaixo se encontrará em breve um relato completo sobre uma experiência familiar de produção agroecológica. Aguardem!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Agricultura Familiar


A Agricultura Familiar é responsável por mais de 60% dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros todos os dias e representa mais para o Brasil do que apenas 10% do Produto Interno Bruto nacional. Ela é a garantia da soberania alimentar brasileira como importante fornecedora do mercado interno e também é responsável por empregar 77% das pessoas que trabalham no campo.
Embora ocupe uma área de apenas 24,3% da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros, a Agricultura Familiar representa 84,4% desses estabelecimentos. A concentração também é mostrada comparando-se a área média dos estabelecimentos familiares (18,37 há) com a dos não familiares (309,18 há). O estado brasileiro que possui o maior número de agricultores familiares é o estado do Paraná onde 90% dos trabalhadores estão vinculados a estabelecimentos familiares.
Aparentemente, analisando esses dados, a agricultura familiar demonstra empregar menos gente por estabelecimento do que a agricultura não familiar (84,4% dos estabelecimentos alocam apenas 77% dos trabalhadores). No entanto estes dados podem ser enganosos quando levamos em conta que a imensa maioria dos produtores e trabalhadores rurais são trabalhadores informais e portanto se encontram na ilegalidade, não aparecendo nesses dados estatísticos do Censo Agropecuário do IBGE, realizado em 2006.
Uma análise que revela o alto nível de empregabilidade e geração de renda da Agricultura Familiar se verifica ao compararmos a porcentagem de trabalhadores rurais com a área total dos estabelecimentos agropecuários. A agricultura familiar, com apenas um ¼ da área dos estabelecimentos agropecuários consegue empregar ¾ do total de trabalhadores rurais. Essa análise sim, revela o verdadeiro poder da agricultura familiar. Empregar mais gente em menos espaço.
Por esses dados acima se torna nítida a importância de se ampliarem os programas governamentais de incentivo a produção agropecuária familiar, como o PRONAF. O estímulo a criação de empregos no campo evita que se torne maior a constante migração da população rural, que desde a década de 60 vêm inflando cada vez mais os centros urbanos, gerando problemas maiores como a miséria, a violência, a poluição, a urbanização desordenada, hiperengarrafamentos, entre outros problemas.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Produtos da Roça

No início do ano de 2010, eu e minha família decidimos abandonar o Rio de Janeiro, cidade onde nascemos e crescemos, para ir morar no distrito de Aldeia Velha, comunidade rural no interior do estado. 
Nosso objetivo ao deixar a cidade era resgatar, na comunhão com a natureza, o espírito dos povos da terra.
Deixando para trás a civilização e o caos, abandonando as mazelas da hiper-concentração urbana, como a poluição e a violência. Buscávamos no campo um lugar simples, com gente humilde, onde pudéssemos criar nossos filhos com liberdade, regados pela abundância e pela beleza de um verdadeiro paraíso ecológico.
E para cá viemos. E aqui fizemos morada. E tratamos de procurar então, um meio de levar a vida. Uma ocupação que gerasse sustento a nossa família, que já aguardava a chegada de um novo ser.

E assim mergulhamos na problemática sobrevivência da população rural.
De imediato, muitas questões se apresentaram. A concentração e especulação econômica da terra, o modelo de pastagem e a moderna agricultura industrial que prevalecem no campo.
A força do camponês, ainda que desgastada, repousa na sua simplicidade. E nela abastecemos nossa coragem de seguir em frente. Não desistimos do nosso plano de nos tornarmos pequenos produtores rurais, apesar das dificuldades.

Quase todo morador da roça, tem no seu quintal o plantio de algum alimento ou a criação de algum animal. Na roça, todos são produtores. Todos são artesãos da natureza.
Aqui, em pequenos lotes no vilarejo, ou em sítios um pouco maiores e mais afastados, produz-se muito em muito pouco espaço. Tão pouco espaço, que chega a espantar que tão pouca terra possa produzir tanto.
Em meu quintal, num espaço de aproximados 40ms quadrados, é possível produzir legumes suficientes para serem consumidos durante 3 meses por uma família composta por 4 pessoas. Fazendo alguns cálculos, perceberemos que serão necessários não mais do que 1000ms quadrados para que minha família possa ser auto-suficiente, produzindo desde seus próprios legumes e verduras até os animais de sua criação que servirão a vossa mesa.
Com uma boa rede de trocas entre produtores, pode-se ter de tudo sem nem mesmo conhecer que cor tem o dinheiro.


Essas qualidades fazem do fortalecimento da Agricultura Familiar um caminho seguro para a transição agroecológica de nossa sociedade. Quando toda a população contida e amontoada nas grandes cidades espalhar-se pelo chão, dividindo em partes iguais os grandes latifúndios com suas monoculturas e pastagens. Quando assentados no chão, todos os seres urbanos se tornarem produtores, artesãos da terra... estaremos, enfim, livres das desgraças da aglomeração humana. Estaremos aptos a recomeçar uma vida mais saudável e real. Em contato pleno com a nossa verdadeira natureza interior.

Apoiar a Agricultura Familiar é uma forma de caminharmos nessa transição agroecológica. Incentivar a produção orgânica e a expansão das técnicas de bioconstrução e permacultura serão cruciais nesse processo.
O fortalecimento de familias tradicionais de agricultores é importante para a produção de alimentos saudáveis que cheguem às nossas mesas deixando florestas em pé.