sábado, 6 de dezembro de 2008

Semana da Mata Atlântica - Aldeia Velha

Olá pessoal,

está chegando a Semana da Mata Atlântica, que vai ocorrer em Aldeia Velha dos dias 11 a 15 de Dezembro!!

Vão ter oficinas como a de pintura com terra e como fazer Suco de Luz, mesas de debates sobre o Banco de Sementes, peças de teatro, circo, cinema, plantio de mudas e ainda a incrível festa:
A EMA gemeu!!! Com a banda Rebossa e o Trio Ruralino agitando a noite!!!!!

Compareçam!!!
Vamos consagrar a Escola da Mata Atlântica, a construção da Casa das Sementes, a força do Suco Verde e o poder da Agroecologia em meio a Beleza de Aldeia Velha!!!


um abraço a todos, até lá!!!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

I Reencontro pós-Eletrorgânico




Já dizia Vinícius de Moraes que a vida é a arte do encontro. E para não ficarmos perdidos por aí em constantes desencontros, temos o prazer de convidá-los para o I Encontro realizado após o Festival Eletrorgânico, onde vamos celebrar o Festival, as guinadas da Escola da Mata Atlântica, a vida, a música, a natureza e a beleza única que um sorriso tem!
Esse encontro também é muito simbólico pois é hora de darmos adeus a Casa Brasil-Mestiço, que abrigou de portas abertas nossas reuniões, festas e, principalmente, nossas idéias. Porém o clima não é de cabeça baixa. Como dito anteriormente, celebraremos com muita música, mãos ao céu, olhares brilhantes (ops), umbigadas, rebolados de cintura, abraços e afagos. Tanto que o show fica por conta das excelentes bandas FIDJUS DE CABO VERDE e CLAREIA com participação especial de LUCIANE MENEZES. Agitando a pista, contaremos com as ilustres presenças da Orquestra Moderna e do trio de djs da Festa Fuco-Fuco, que não é um trio elétrico mas tem a capacidade de energizar todo o salão.

O convite está feito. O Reencontro é dia 14 de novembro, sexta-feira, a partir das 22h, na até então Casa Brasil-Mestiço, que fica na Rua Mem de Sá, 61, Lapa.
Venha farrear conosco!

Entrada: 5 pilas (ahoooooooooo)
Cerveja: 2,50 (mole, mole)

Namaste!

domingo, 9 de novembro de 2008

E lá se vai mais um ano...

Podemos afirmar que, o Festival Experimental EletrOrgânico desse ano foi certamente o maior de todos os que já aconteceram!!! Um encontro de muita Energia, de muita Magia, de Realizações e Sonhos. Sabemos que já passamos de um ponto que não tem mais volta. Realizar o Festival todo ano, não é mais um objetivo apenas nosso, mas também uma resposta a vontade de todos os que sonharam juntos com a gente, e que querem acreditar nesse sonho.
A família eletrorgânico continua crescendo cada vez mais... Permanecemos fortes porque estamos unidos! E sempre unidos que poderemos enfrentar as piores tempestades e vencer os maiores desafios. Lamentamos que algumas pessoas tenham saído insatisfeitas do Festival. Trabalhamos durante meses, com muito AMOR e entrega para produzir um dos mais belos festivais já vistos.
Doamos nosso corpo e nossa alma para esse festival. Por toda essa dedicação, nos reconhecemos Guerreiros. Pois trabalhamos sem remuneração por uma causa que acreditamos de coração. Porque o nosso Planeta não pode mais sofrer com guerras, com egoísmo, preconceito ou desunião. A ganância de uns não pode transformar a Terra em um grande depósito de lixo, nem fazer da vida humana uma simples busca por sobrevivência.
O Festival Experimental EletrOrgânico, e as próprias ações da Escola da Mata Atlântica, têm como objetivo refletir sobre o caos social e ambiental que nós, da sociedade global do século XXI, estamos agora enfrentando. Encontrar o equilíbrio entre a Tecnologia e a Ecologia, é um dos focos principais nesse momento.
Percebemos que algumas coisas devem ser alteradas em nosso festival, tanto nos aspectos que falhamos, como também nos pontos que deram certo. E temos consciência de que alguns parâmetros vão mudar para o IV festival.
Entre todas as observações pertinentes que foram levantadas, uma delas parece a mais importante: ano que vem esperamos contar com uma participação maior das pessoas que vão ao Festival. No sentido de integrar, de unir todos aqueles que se deslocam de suas casas com a intenção de festejar e se conscientizar, se agregando ao Festival. Porque percebemos que não existe público e equipe de produção nesse festival. Todos somos Um. E todos fazemos parte de alguma maneira... e a partir do seu próprio ponto de vista podemos colaborar.
Desde já agradecemos a tod@s por acreditarem nas ações do coletivo EletrOrgânico e da Escola da Mata Atlântica. Tod@s que participaram e de alguma forma ajudaram, o nosso sincero agradecimento!!

Juntos somos fortes pela Cura do Planeta!!!
Juntos somos muitos trabalhando em União!!!

Até o próximo Festival !!! Nós somos Um...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Velha Aldeia

Tudo começou com uma pequenina semente. Uma idéia. Do germinar de uma conversa, um desejo. Encontrar bem fundo na terra energia para crescermos alto e fortes como um bambú e termos no céu nosso ensejo.
E assim princípiamos uma idéia. Demos uma primavera aos pensamentos... e muitas realizações brotaram. Cheirosas. Coloridas. Variando em seu formato multicor, em batucada seguimos, praticamente crescemos ao som do tambor.
Os anos foram passando e muitas lições fomos aprendendo com a terra e com os filhos que vivem dela. No ser mais simples, encontramos a mais extrema sabedoria. No tempo da colheita, entendemos a circular maravilha!
Tudo que plantamos, se bem cuidado, a terra dá. Amaçiado o solo, adubada a terra, bem molhada a semente... plantamos um vale e do seio da mãe nasce o alimento de toda gente.
Porém, não é fácil a lida do dia. Regar, podar, capinar, carregar... como trabalha o povo da roça! Colher todo o alimento de terras imensas, e depois levar um mísero bocado na sua carroça.
Se vive mal o homem, o que dirá então a semente? Que sofre com os gases e agrotóxicos dispersados. Que concentra em si todo mau acumulado. Que dá a origem ao fruto plástico, que não é sustentável nem inteligente.
Daí que precisamos proteger nossos filhos e frutos para um futuro de harmonia. Para que a semente gere a árvore, a árvore gere o broto... para que todos possamos comê-los em igualdade no futuro, como soa a melodia.
Basta a humanidade aprender a dividir e perdoar. E, nesse processo, entender a magia presente nas forças da natureza. Que são a terra, o fogo, a água e o ar.
Mas além deles, ainda existe um quinto elemento. Que está em todos! Que nos preenche e nos movimenta ao mesmo tempo. Esse elemento é o amor manifesto em sua forma mágica. Esse elemento vem de dentro, e chamamos música.
A música existe para transformar as vibrações, apaziguar rivalidades, animar e dar alegrias. A música cura. Se houvesse música sempre, talvez não houvesse tanta corrupção e covardia.
Então vamos cantar com os corações. Cantar a parcela que somos da imensa poesia em movimento, em pensamento, canto ou batida. Afagar a terra, abraçar aos seres e, com os olhos da alma, agradecer à vida.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

III Festival Experimental EletrOrgânico

Parece que foi ontem que começamos a pensar sobre um possível I Festival Experimental Eletrorgânico. Não tínhamos nenhum plano traçado e já tinhamos a certeza de que iria tudo dar certo. Hoje, mais de dois anos depois, acho que podemos dizer que deu mesmo certo. Mais que isso: o Festival Eletrorgânico se tornou o elo de uma família inseparável.

O Festival, hoje, celebra a importância da consciência agroecológica e da cultura livre. Congrega diferentes tribos culturais num mesmo ambiente e com uma proposta em comum: um mundo sem agrotóxicos e monoculturas, uma sociedade com equidade social e sem violência. O Festival EletrOrgânico é a expressão de todos aqueles que querem a conservação da biodiversidade da Natureza, um mundo de União entre os seres humanos, um mundo com Amor.

Valores esses que se encontram concentrados em nossa comunidade Canaã durante todo o ano, que são constantemente disseminado pela Escola da Mata Atlântica nos arredores do Estado do Rio de Janeiro; e que agora florescem, em plena Primavera, num lindo Festival de música, teatro, circo, ecologia e muito mais que pudermos imaginar.

Esse ano, o Festival vem para celebrar todas as nossas conquistas e catalizar ainda mais os planos dos guerreiros do Arco Íris, aqueles que querem a reestruturação da nave Terra. Chegou a hora de despertarmos para os desequilíbrios ambientais que causamos ao longo da história. E para o sofrimento social causado pela nossa própria violência e sede de poder. Somente a consciência pode nos orientar nesses tempos de obscuridade. É um evento que chega para mudar tudo de uma vez por todas para sempre.

É chegada a hora dos despertar dos Guerreiros...

Aho!!!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Balança mas não Cai!



Olá pessoal!!

Muitas coisas estão mudando no mundo pessoal. Ao menos no meu. A profecia Maya diz que, agora, fixada as bases da comunidade alternativa ao mundo 12:60 (frequência de tempo onde tempo=dinheiro), a tribo dos guerreiros do arco-íris, os 144 agentes de luz, irão guiar a humanidade no caminho da reconexão com a Mãe-Terra. O equilíbrio entre os avanços da tecnologia e a conservação da bio-diversidade são fundamentais para a delicada harmonia do planeta. E precisamos acordar para essas verdades, porque a harmonia do planeta envolve a harmonia na vida de todos nós.
Preocupados com essa reconexão é que iremos fazer uma noite musical dedicada ao Milton Nascimento e a todas as suas músicas que falam da terra, do amor e da dor e delicia de exitir. Haverá também uma performance, chamada A Carioca, que conta a história da cidade do Rio de Janeiro através do caminho das águas, e levanta também uma reflexão sobre a mitologia Guarany, povo antigo, que em outros tempos antes de nós, habitavam nossas terras.
A noite encantada será nesta quinta feira, dia 11 de Setembro, no Brasil Mestiço, Lapa. (Rua Mem de Sá, 61. Em frente ao Odisséia.)
Um abraço a todos, esperamos vocês por lá. Para comemorar a vida, e o início deste novo ciclo.
Om Nama Shivaya!!!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Mini-Mutirão na Casa de Sementes Livres de Aldeia Velha!



Esse final de semana ocorreu em Aldeia Velha um pequeno mutirão para caiar (pintar com cal) a Casa das Sementes Livres. Algumas pessoas, voluntariamente, viajaram até a cidade se hospedando na comunidade Lioneidas, local onde ocorrem os maravilhosos rangos coletivos e as costumeiras batucadas xamânicas, com o objetivo de ajudar em mais este passo dado pela Escola da Mata Atlântica (EMA). Apesar do pequeno número de pessoas envolvidas, o mutirão foi um sucesso. A primeira mão de cal foi aplicada nas paredes de fora da casa. Os próximos passos da EMA são: a plantação do canteiro de medicinais na horta da Escola Municipalizada, o término da segunda mão de cal por fora e a construção de um viveiro, atrás da Casa, com mudas nativas da Mata Atlântica.
Para conhecer outros projetos e atividades da EMA, acesse o sitio da Escola clicando no link ao lado, e participe e colabore para a construção de um mundo ecologicamente sustentável.

Seja bem vindo!!!

A Terra chama por seus filhos...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Bug do Milênio

Agora é sério, o sistema quebrou. Não há mais combustível, gás ou pressão que faça a máquina andar novamente. É o bug do milênio!! E agora??! O que nos resta??!?
O Retorno a Cultura Arcaica. Voltaremos a andar com os pés na terra novamente. A observar as fases da Lua. A obdecer a força do Sol, a comer com os olhos na terra, a olhar para os filhos do chão.
Sem economia, teremos a Solidariedade. Sem dinheiro, teremos uma nação de homens e mulheres transformados pela natureza de seus atos, pela rusticidade de suas relações. O homem retornará ao campo, as cidades não poderão mais ser habitadas. Serão utilizadas apenas nas festividades, como os Carnavais, ou à passeio, como atração turística, e quem sabe até como ponto de encontro de futuras manifestações…
Mas só o que, por si só, tem vida, sobreviverá. Somente aquele que cuidar do peixe, irá comer do pão. Aquele que preservar a árvore, irá comer o fruto. Onde tem água, a vida humana poderá dela se banhar. Na grota funda, do âmago da terra, o sumo gelado beber. Cristal Líquido.
Mas como, se os rios estão acabando? Como, se as florestas cada vez mais estão desaparecendo? Em breve, nesse ritmo em que estamos, nosso Oceano se tornará um mar de plástico. Muitas espécies animais desaparecerão da terra, que se tornará um deserto de pastagens, e se tornará incrívelmente quente a vida nesse planeta com uma camada de metano bem grossa na atmosfera, escondendo o Sol e acirrando o efeito microwave.
Ah… ainda bem que a notícia do bug do milênio é falsa. Ainda posso pegar meu telefone, pedir uma pizza. Ver o correio eletrônico, mandar torpedos do meu celular, ouvir uma música no mp3 player, ou no my space do meu amigo. Posso trabalhar sem ver chão de terra. Passar a vida toda sem brotar um trigo!
Enquanto meu computador não parar, vou fingir que ‘essa coisa toda’ nem é comigo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Tormenta Elétrica Azul - Lua Magnética

No dia 26/07 começamos um novo ano no Calendário da Paz, o ano da Tormenta Elétrica Azul. Esse é um momento para potencializarmos nossas ações no sentido da Reconstrução do jardim Terra. A Tormenta traz energia para que catalisemos nossos processos através da força que encontramos em nós mesmos e na nossa União.
Espero que esse ano consigamos despertar no mundo a Verdade sobre a União, sobre o Respeito a Natureza, sobre a Paz. Para que encontremos Harmonia entre os seres, para que pequenos abraços acabem com grandes abismos sociais. Para que tomemos atitudes que sejam benéficas ao Destino de toda a Humanidade.
Espero que a força da Natureza, que vive assombrada e escondida entre as matas, renasça no coração das cidades, mostrando aos homens que o desespero e o caos são resultados das escolhas de nossos ancestrais. Que hoje podemos construir um mundo diferente. Um mundo de Amor!
Basta que acordemos para um novo tempo!! Que celebremos a vida com os olhos abertos e tenhamos as percepções do mundo tal como ele é!!! Assim poderemos construir Lioneidas, uma terra de Liberdade, União, Intemporalidade, Natureza e Verdadeira Amizade!!!!

A Terra chama por seus Filhos!

Pela Cura do Planeta!!
Ohm Nama Shivaya

Literatura Lisérgica

Aqui estão quatro contos que se parecem muito entre si em sua estrutura lúdica. Ambos nos remetem ao ambiente do sonho e da fantasia, permeiam um mundo criado pelas alucinações de nossa própria mente. Foram escritos no ano de 2003, como últimos remanescentes da série de Contos Lisérgicos e pertencem a um mundo infinito e reluzente que brilha e existe dentro de nós. Boa Viagem!!

Ei, Soldado...

O Soldado se liberta de seu fardo sujo, sua roupa gasta, sem brilho e sem cor, e ao mesmo tempo se liberta da marcha silenciosa e uniformizada. Ele corre contra todos os sentidos, corre, corre sem fim, desesperadamente, como se de repente tivesse sido fulminado por um fogo sem luz. Ele corre intensamente por minutos, contrário a direção de todos os pacientes soldados, corre contra eles até perceber que a marcha é infinita, que o fardo é bem mais resistente e que aquela malha vedada força contra o seu peito e dificulta sua tentação de respirar.
O Soldado então sente tontura, uma certa falta de ar e cai no chão agonizante, sem entender porquê aquele exército e porquê aqueles soldados a sua volta lhe olham com tanta estranheza e paciência.
A marcha é eterna e infinita, restrita ao tédio e ao sacrifício. Mas o Soldado não entende porquê. O Soldado não sabe quem determinou que naqueles campos floridos sob a brilhante luz do Sol toda sua vida seria aquela marcha e aquele fardo que o prendem em uma única direção.
Ele, agonizante e ajoelhado, levanta o seu rosto e olha a sua volta tentando ver o rosto de outros soldados.
Eles tem o mesmo rosto, a mesma expressão, o mesmo hipnótico sorriso.
O Soldado grita sem respiração e desesperado:
_Quem ordena este exército? Quem ordena este exército? _diz numa voz bufante e fanhosa.
Alguns soldados olham-no estranhos e dizem algumas palavras enquanto suas cabeças inclinam levemente. Os seus lábios movem, o Soldado tem certeza, mas o ar continua surdo e o vento sopra quieto, eternizando a surdez das vozes.
O ar falta-lhe mais uma vez, e dessa vez é quase fatal. O Sol se transforma em um azul escuro, e a cor transforma todas as flores do campo.
O que é aquilo? O que é isso tudo? Pensa o Soldado olhando a sua volta para um mundo insanamente selvagem.
Mas ao mesmo tempo que as cores se alteram, altera-se também a marcha e a expressão de todos os outros soldados. Os soldados não tem mais o seu sorriso hipnótico, tem agora na face a pálida expressão das caveiras. E ao mesmo momento que tudo se torna amedrontador nasce uma esperança no Soldado que começa a sentir o início de uma ventania e algumas vozes distantes que estão o chamando. O Soldado começa a se sentir louco, e então um pouco melhor.
_Soldado, venha conosco! _gritam alguns outros Soldados que passam correndo, estes cada um com o seu rosto_ Venha, temos de correr! Os generais estão atrás de nós!
Num alívio de um pensamento imediato o Soldado se levanta e começa a correr junto com os outros homens fardados em meio as caveiras e a luz escura do Sol que transfigura este estranho ambiente selvagem.
_Os generais?! _exclama o Soldado na corrida escura ao infinito. _Quem são?
_São os donos deste exército. _diz-lhe uma mulher loira com um rosto amigável. _São os comandantes dos caveiras desde muito tempo, seus pais eram donos do exército, e os pais de seus pais, e os pais...
_Oh! _espantou-se o Soldado enquanto a tempestade aumentava e a mulher lhe parecia mais distante. _Mas porque isso?
Todos os homens com faces continuavam a correr por entre as centenas de caveiras. Centenas, milhares que iam até o infinito...
_Eu não sei! _respondeu a loira mulher _Ninguém conseguiu entender isso até hoje. Parece que é uma fome de poder estranha, uma necessidade de dominar mais e mais, e mais e mais, na falta de alguma coisa... essencial.
O Soldado balançou a cabeça num sinal afirmativo enquanto expirava intensamente.
_Essencial... _repetiu ele, e mais uma vez a ventania tornou a aumentar.
_Parece que a natureza está a nosso favor! _brandiu uma voz grossa de um homem que estava às costas dos dois. Era um homem espirituoso e de cabelos castanhos.
O Soldado continuou a balançar o seu pescoço.
_Mas porque todas essas pessoas são caveiras? _perguntou com a dor entorpecente da infâmia pesando em sua cabeça.
_Ora... _ponderou a mulher loira.
_É difícil, é doloroso. _ completou o outro Soldado, espirituoso.
_Não é todo mundo que consegue despertar dentro de si a questão. Que aceita trocar o que existe pelo que é vazio. _recitou a mulher _Muitas pessoas não tem a sensibilidade da natureza. Elas ficam presas aos movimentos que enxergam a sua volta, ficam atadas a sobrevivência. Pois todos sabem que quem contraria a marcha vai ser pego pelo poder do general, alguns contrariam mas no primeiro sufoco desistem. Você até que tem reagido bem...
O Soldado sorriu um tanto cansado. Ele, no entanto, estava pegando o ritmo da corrida. Só não sabia aonde se daria aquele infinito, qual era o destino dos fugitivos Soldados com rosto.
_Penso que por algum tempo_ disse o homem de cabelos castanhos _teremos que continuar a correr.
_Vocês estão correndo a muito tempo? _perguntou o Soldado, noviço naquele transfigurado mundo, tenebroso e preternatural.
_Sim, _respondeu a mulher _mas nem sempre estamos a correr contra a corrente.
_Ás vezes paramos e ficamos a divertir e confundir os generais sobre a vida, que nos assistem sentados em seus tronos no alto de suas muralhas. _acrescentou o outro Soldado _Felizmente podemos fugir a arte.
O Soldado sorriu um grande sorriso, ele enquanto marchava já tinha ouvido falar sobre a arte. Tinha conhecido a arte e sorrido maquinalmente na artificialidade de seu agora antigo mundo.
_Mas agora eu acredito que teremos que continuar correndo por um tempo. _gritou a mulher na ventania _Acho que temos que juntar o maior número de Soldados possível, para que a natureza nos ajude em tempo. Antes que os generais consigam de vez destruir a natureza.
O Soldado ficou feliz, não pela vida mas pela esperança. Como seria bonita uma vida com a natureza! Uma vida sem caveiras, um mundo de homens com rosto que sentissem a ventania e a realidade. Que sentissem, assim como agora ele sentia, a essência brilhando multicolorida no centro de seu corpo, de sua mente, de seu espírito. Ainda bem, ele tinha que continuar a correr enquanto era tempo, tinha que chamar outras pessoas, tinha que contar sobre o universo da natureza.
_Ei, olha ali! _disse a mulher loira _Ei, Soldado...

Escritor das folhas soltas

O selvagem tribal chama a atenção de seu amigo, não tão observador mas um pouco mais civilizado, um homem da aristocracia, com uma ligeira cotovelada e uma indicação que ele, informal, aponta com o beiço. O indígena chama a atenção de seu amigo, em meio a ventania que os assola naquele jardim de praça, sobre o homem num banco próximo que medita com olhos centrados no infinito enquanto parece distraído a todas as folhas de seu caderno que voam e se perdem pela praça. O homem apenas se mantém tranquilo, inabalável, indistinto sobre qualquer forma que a sua linhagem deveria representar. O selvagem surpreso, em muito até impressionado, pergunta ao aristocrata palavras que parecem estar rodopiando dentro da sua cabeça:
_É maluco, não é?!
O homem eriça as sombrancelhas de forma incitativa.
_É escritor.
O indígena faz que sim com a cabeça, talvez irresumível a poucos milhares de perguntas.
_E porque deixa voar todos os seus textos? _disse se sentindo atrevido mas considerando inevitável a pergunta_ Qual é o sentido de se escrever desse modo?
_Talvez seja apenas um artista. _respondeu o Lord em tom frio_ Seja um desses loucos visionários do mundo. Talvez tenha escrevido tanto que deixa suas folhas voarem para que se espalhem pela sociedade. Ou talvez germinem na terra e venham a se tornar uma planta. _disse insinuante.
O indígena olhava ainda hipnotizado para a informação que ia se perdendo no vento e nos cantos do parque. A todo momento novas folhas se soltavam do caderno e voavam para mais longe e com mais velocidade.
_Vamos ajudá-lo. _disse se levantando, talvez ainda desse tempo de correr e juntar todas as folhas, pensava.
_Deixe o artista criar. _falou o Lord barreirando-o com o braço_ Deixe a arte livre para criação. Não vê, ele escreve mais. Escreve novos. Deixe que os antigos se percam, afinal, não quer você também que alguém lhe aprisione.
O índio olhou-o sem entender. O homem aristocrata continuou se direcionando à criação.
_Talvez aquelas tenham sido palavras sofridas, miseráveis como o desamor. O criador entende bem da arte quando a faz, ele está vivo num mundo infinito. A própria vida teve muita arte para se criar, mas isso só porque não tinha ninguém que definisse o seu papel, o que deixou-a livre para o amor.
_Que pena! _exclamou_ se alguém tivesse juntado as folhas da vida, talvez hoje entendêssemos da criação. Talvez pudéssemos compreendê-la...
O Lord novamente eriçou o sombrolho.
_Talvez amigo... mas você conhece alguém que já tenha definido a arte. A arte pode ser estudada, mas não aprisionada como pretendem fazer alguns conceitos. E embora a vida seja arte também, ainda existem homens que insistem em aprisioná-la, e isso enfim é o que causa desamor. Já percebeu quanta arte há na natureza?
O selvagem balançou a cabeça positivamente.
_Então deixemos que aquele homem faça a arte com o auxílio do vento. É bom quando começamos algo que não sabemos onde vai parar. Tal é a arte em sua maravilha. Divina e talvez mais precisa, quando se trata de levar amor para os homens, não devemos nos reter em limites. Até a guerra em seu fervor tem também os seus benefícios. Algumas coisas tinham que ser mudadas, outras ainda terão. Além do mais... _calou-se o Lord nesse momento, se retendo numa longa pausa. O indígena instigado insistiu sobre o doutor.
_Além do mais o quê? Além do mais o quê?
O aristocrata falou com toda paciência apesar de tudo.
_Além do mais, catar suas folhas seria acabar com a nossa própria história. Ele é nosso artista, é nosso criador. _e olhando para a expressão longa de dúvida no rosto do indígena, o doutor ainda complementou_ Sim, ou acha que um Lord e um índio conversariam num banco de praça sobre uma ventania fria dessas. Somos também fictícios. E aquele homem cujas folhas voam é o nosso autor. Ele olha contra o vento porque mesmo se olhasse para a nossa direção ele não estaria nos vendo, estaria nos imaginando. Por isso, prefere se inspirar visionando a natureza...
De repente o selvagem pareceu inquieto. Olhou a sua volta e observou que não havia mais do que o escuro ao redor daquele jardim. Não existia nada daquilo, ele era mesmo apenas uma criação. E talvez fosse ou talvez não fosse nem independente. Talvez suas vontades fossem sentidas porque foram apenas decididas pelo criador. Ó, que grandes questões tinha ele agora sobre a liberdade da vida? Surgiam suas vontades pela lógica do amor e do medo, ou foste alguém que o manipulava feito marionetes que introjetou tantas questões nele? Ó meu Deus, era ele ele mesmo, ou um outro?
Diante do próprio criador, nada mais coerente do que obter dele a resposta. O índio então levantou-se decidido e a passos firmes foi caminhando em direção ao escritor das folhas soltas. Seu homem, artista e criador.
_Homem, revele-me a verdade, a luz!
Nisso o escritor lhe direcionou o rosto feliz e olhou-o quase como se pudesse vê-lo. Sorriu. Seus olhos brilhavam tanto como nunca vira outro igual. Levantou o braço tateando o vácuo e num gesto supremo de orgulho proclamou:
_Fim!
Nesse mesmo momento desapareceram todos, o homem, o jardim e o índio. Depois disso, restaram somente as folhas soltas.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O que precisamos entender sobre o caso da Aldeia de Camboinhas.

O que precisamos entender sobre o caso da Aldeia de Camboinhas, é que:
Há milhares de anos, o povo Guarany vive em harmonia com os elementos da natureza, com os seres, com as pedras... plantando sua roça consorciada (método hoje conhecido como agrofloresta), preservando a água, as plantas, respeitando as épocas e cios da terra... nomeando e dando vida as coisas a sua volta. O nome Niterói, por exemplo, é Guarany; e quer dizer Baía ou enseada, nome que eles chamavam a atual Baía da Guanabara. Carioca, Guanabara, Itaipu, Piratininga... entre outros nomes de localidades do entorno do Rio de Janeiro, também de origem tupi-guarany, são exemplos da dimensão desse povo que aqui vivia de maneira "sustentável" e naturalista muito antes de nós.

Há 500 anos, a cultura ocidental atropelou o Saber Ecológico e espiritual da cultura ameríndia. Queimando tribos, matando índios aos borbotões. Hoje, vemos que o "processo civilizatório" continua em voga atropelando a cultura índigena e seu Saber Ancestral enquanto o sistema capitalista caminha rapidamente (lembremos o PAC, plano de aceleração do crescimento) para o colapso e para o caos absoluto. Acusar os Guarany de degradação ambiental é um absurdo, como afirmou o Cacique Darci, enquanto centenas de prédios estão ocupando uma área de restinga que foi misteriosamente subtraída, há alguns anos atrás, da área de preservação integral que delimitava o Parque da Serra da Tiririca.

Vejam também o discurso do Cacique Darci na Audiência pública na câmara dos vereadoresde Niterói:
http://br.youtube.com/watch?v=ZQfF32o42eU

Nós temos muito a aprender com os índios Guarany!!
Precisamos reaver nossa postura histórica, ainda que tardiamente!!

Viva os Tamoios, povos defensores da saúde da Terra!!!
Não deixemos que os Guarany Mbya sejam tirados de lá!!!

Ahooo

Literatura Lisérgica

Estes dois contos abaixo são dos anos de 2002 e 2001 respectivamente, e pertencem a categoria de contos lisérgicos que escrevi por essa época. Aos olhos de meus 17 anos, um retrato da dor entorpecente do mundo.

A Rosa da Existência

A Rosa da Existência

_Ó bela rosa! _admirei eu sob o círculo de meus sentidos. Rebaixei um pouco meu corpo e me agasalhei entre as penas de minhas asas. Aproximando o meu bico mais um tanto pude sentir o sabor agradável e o odor da pureza e da umidez do orvalho. _Estou um pouco cansado de voar hoje. _confessei a ela _Voar é tão suave, é tão infinito. Ah... _suspirei _O vento dando força as suas asas, o céu sobre a sua cabeça, infinito, imenso, e o horizonte colorido sempre distante, sempre, como a promessa da eternidade reluzindo ali entre o céu e o mar. Ás vezes bem amarelado, outras tonado em rosa, tantas outras tão claro, límpido! Enquanto o vento escorre por meu corpo e de vez toda razão de meu espírito é levada para longe. Vibrando no cosmo eu somente sinto a liberdade... Mas, ó rosa! _disse eu mais uma vez fazendo gesto de fadiga.
Cai-me sobre o cansaço de meu corpo.
_Por vezes me lembro dos humanos. A terra é tão livre quanto o ar, os sentidos, as visões, são os mesmos. Porque os homens não se fazem livres como os pássaros? Porque vivem a competir, ao invés de dividir e compartilhar? Creio, rosa, que a eles falta metafísica como à temos nós. Não nos importamos pelas coisas por volume ou espécie, importa vermos de que cores as coisas são feitas, com que brilho ela nos invade. Se é suave cor de amor, se vazio liberdade... Nunca nos importamos com a fadiga. O cansaço é o descanso do prazer. _suspirei _Livre, livre infinito...
Olhei-a mais uma vez, pûs meus olhos em seu interior. Ó, como!? A rosa era tão bela, tão terra, tão universo. E, no entanto, não tinha nem uma gota de contradição em si. Era vida e era ato. A elegância de nascer e de morrer, de morrer... viver é toda a simplicidade de sua existência. E morrer... Existia para ela o mesmo destino ao qual não se pode fugir, o tempo andava de trás para frente, para ela e para todos nós, na contagem regressiva a qual não se pode fugir, e ainda assim, naturalmente, na primavera ela insistia em desabrochar. Em viver, com existência impressionante e inexplicável, estar sendo ela mesma a cada momento. Esgotando suas cores no universo, para vida, que não lhe duraria para sempre... Olhei inquieto para duas ou três direções rapidamente. O cansaço me passara, meu espírito vibrava para a vida novamente. E quanto aos humanos... a cor deles era tão bonita. E eles iludidos por poder, o poder meus caros, é o prazer que sobra e mal satisfaz... e por enquanto, deixe esses para lá. Alçei voô novamente.

O Sonho

O Sonho




Acordei docemente com o brilho do Sol em meus olhos. Até então os pensamentos me vinham como em sonho. Aquela prequiça, o cheiro da indecisão de quem tem um milhão de planos e um dia inteiro pela frente. O cheiro do recomeço. O cheiro do novo dia. O cheiro da grama úmida, o ch …
Grama úmida? Sol nos olhos? Como posso sentir calor e a brisa suave se é inverno e nem estou nos trópicos?
Abri os olhos sobressaltado! Era verdade. Fazia muito calor, embora eu não suasse, e o vento passava delicadamente me refrescando e me provocando leves arrepios. Eu estava deitado numa rede presa à dois coqueiros que me sombreavam, e abaixo de mim descia um longo vale grameado que cheirava a orvalho no amanhecer!
Desentendi. Sério, desentendi profundamente! Onde tinha ido parar minha cama, as paredes de madeira do meu quarto? As ruas? Minha vista para a biblioteca nacional? Onde estava toda a França? Nada. Só verde e natureza. Aliás, muito verde e muita natureza, mas nada de gente! Não havia uma só alma viva independente da direção que eu olhasse. Só o silêncio, o pio das aves e o sopro do vento.
A atmosfera também estava estranha. Minhas vozes, quando eu tentava falar, pareciam mudas, sem som. Mas ao mesmo tempo conseguia ouvi-lás ecoar gritantemente por todo o vale.
Acho que andei por muitas horas. Subia colinas, atravessava imensos campos, me perdia entre ás árvores … o Sol continuava à pino, como se estivesse sempre ao meio dia. Mas quando tentava olhá-lo, nunca conseguia. Sua luz parecia vir de todos os lugares, mas nenhum em específico. Acima de mim, só o céu azul para onde quer que eu olhasse.
Pensei que pudesse estar em um sonho. Que aquele era um paraíso com o qual estava sonhando, e mais algumas horas e eu despertaria com algum barulho no mundo lá fora e pronto! Tudo voltaria ao normal! Vestiria minhas calças, prepararia meu café, tomaria meu ônibus e antes que pudesse pensar em mais outra coisa, já estaria na frente da mesa do Dr. Bin Laden anotando todos os seus planejamentos diários. Ao meio dia sairia para almoçar com Judith, iriamos ao motel como de costume, ela falaria em compromisso, eu pediria mais um tempo. Diria que eu precisava me organizar, que minha vida estava uma bagunça. E ela ia se cativar com a minha sinceridade. Depois iria ao Pop’s. Encontraria Mart, Frig e Beta. Beberia até me tornar a vontade para falar e quando menos percebesse, já ia estar em casa novamente com a cabeça no travesseiro e a minha manta para me aquecer da fria solidão das minhas paredes. Em breve estaria sonhando de novo …
Novamente olhei a minha volta e dessa vez o silêncio me pareceu insurdecedor. Percebi. Desde quando me apaixonara por aquilo? Desde quando minha vida me parecera boa?
Sempre ocupei meus dias com reclamações, enfrentava as pessoas com a face pálida da mesmice. Dr. Bin Laden à meu ver tinha às faces do inferno. Judith por poucos momentos me era a salvação, aquele sorriso, aqueles olhos. Gozava de incessante prazer ao seu lado e até me divertia em almoçar em sua companhia. No quarto de motel meus olhos reviravam de orgasmos múltiplos, multiplicados. Eu queria tê-la para mim, porém minha privacidade não me deixava. Odiava ter que deixá-la e ver nos seus olhos que a cada dia, minha indecisão à afastava mais de mim. E odiava não ter nenhuma decisão dentro de mim. Depois disso, nada me parecia pior. O resto do dia parecia monótono e eu andava muito insatisfeito com o mundo. Odiava a prisão que era viver na babilônia, ter de seguir muitas regras, andar em linhas, trajetos. Ser espectador diário da miséria e da violência desumana que é o então mundo real. Lá fora! E enquanto isso eu aqui sonhando…
Provavelmente é com isso que devo estar sonhando. Com um mundo sem Dr. Bin Laden, indecisão ou Judith. Com um mundo onde o Sol brilha eternamente, mas a brisa nunca deixa de me refrescar. Onde os campos parecem eternos e não há nem miséria, nem desiqualdade, nem violência, pois nem pessoas há. Um mundo talvez perfeito, mas que ainda penso que alguma coisa deve faltar?
Novamente tentei mirar o horizonte. Estava sentado no alto de um vale, encolhido, sob a sombra de uma outra árvore, estático, onde periféricamente observava a grama, os pássaros e o mar azul sobre minha cabeça. Sabia que teria, quanto tempo quizesse para pensar. E então ali fiquei à pensar por muito tempo, talvez horas, mas já isso não posso afirmar.
Pensei sobre muitas coisas, mas não me lembro de nada. Procurava ainda alguma coisa que pudesse faltar naquele divino sonho com o paraíso? Algo que pudesse completar meu sonho, e que talvez me fizesse acordar diferente? Algo ilustre, inusitado, um mistério! Um mistério cabuloso de solução simples porém fantástica? Algo literalmente surreal, que me faltava naquele momento…
Me levantei e fiquei à caminhar por aí enquanto pensava. Andava e calculava. Queria saber de mim mesmo o que eu queria para o mundo. Qual sonho me faltava? O que mais queria eu, daquela doce ilusão?
Foi quando avistei uma pessoa à caminhar muito longe de mim! Desci o vale correndo desesperadamente, atravessei outras florestas, um pequeno riacho, subi novamente a colina ainda em pique devastador e sem me cansar, vi que tinha me aproximado da pessoa. Ela estava de costas, tinha o cabelo comprido e vestia um único e comprido pano branco, que lhe cobria até os calcanhares. Não pude saber se era homem ou mulher, a ondulação do cabelo escuro não me dava a certeza. Enfim, à alcancei.
_Oi! _gritei às suas costas. Ela não se virou.
Tentei me aproximar mais, ver-lhe o rosto. Mas soube, como se sempre soubesse, que nunca lhe veria o rosto. Estava destinado a sempre vê-la pelas costas e jamais me atrever a tocá-la.
_Onde estamos? _perguntei. Minha voz ecoou ainda mais.
_No futuro. _me respondeu um sussuro surdo e eterno.
_No futuro? Achei que estivesse sonhando… _decepcionei. Como poderia o futuro ser daquele jeito? _ Mas onde estão os outros, Judith, Bin Laden, o resto da civilização?
_Eles estão vivendo. Na realidade. Estão no mundo dos medos e dos desafios… Mundo esse que você renunciou.
_Renunciei?! Ei, eu não pedi para estar aqui! _protestei. Fez-se silêncio por um pouco.
_Tem certeza? _me respondeu _ Você não achou que estava sonhando?
_Certo. Mas não quero mais estar no futuro! Quero voltar para o meu mundo. Como que eu faço para voltar a realidade?
_Ora, é muito simples. Tem de assumir os medos e desafios de volta… e se verás onde quizeres.
_Ótimo. E nunca mais verei o futuro?
_O futuro nunca pode ser visto e nem ser tocado. Se me virar, nunca mais saberá como é o presente.
Pensei por um pouco. Talvez pudesse ter ali tudo que sempre quiz? O sonho perfeito, de campos e dias eternos. E uma mulher , talvez uma Deusa, que me pudesse fazer companhia para sempre enquanto ali estivesse, no futuro. Mas num piscar de olhos a verdade desabou sobre mim. Pois se visse sua face, depois, nunca mais poderia rever Judith, Mart, Frig, Beta, ou mesmo o Dr. Bin Laden e a miséria e a violência do mundo. Nunca mais teria medos nem desafios e muito provavelmente, a adrenalina e a indecisão sobre o seu rosto seriam a última vez que sentiria o sangue correr pelas veias. Daí por diante, tudo seria conhecido e premeditado…
_Foi um prazer lhe conhecer, mas tenho que ir. Até nunca mais. _lhe disse e me virei. Pude sentir que estava sorrindo, mesmo ela estando de costas.
Preferi viver, para sempre, no presente.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Boas Vindas!

Enfim, tive que ceder aos avanços da tecnologia e criei um blog para publicar virtualmente toda a minha obra literária.
Fazem quase dez anos desde que comecei a escrever meus primeiros poemas, contos, peças teatrais, romances... e como alguns livros não podem mais ser encontrados, ou outros sequer chegaram ao consentimento geral, resolvi expô-los aqui de maneira mais ou menos cronológica, temática... para que todos possam ter a acesso aos sonhos e pensamentos, que com tanto esforço criei para a Humanidade.
Espero que gostem das longas viagens aos outros mundos possíveis dentro de nós mesmos, e que aproveitem bem o caminho... a casa é de todos nós!!!